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sexta-feira, 14 de maio de 2010

A crise da razão - texto complementar

O significado do termo razão

A Filosofia, enquanto conhecimento racional da realidade natural e cultural dos seres humanos sempre se apoiou na razão e mais recentemente passou a desconfiar dela.
De qualquer forma, a razão sempre foi um conceito sobre o qual a Filosofia teve que se debruçar.
Partindo do conhecimento do senso comum, percebemos que a razão pode ter diferentes significados. Ora significa motivo ( quando alguém quer saber a razão porque está sendo tratado de determinada forma), ora significa juízo, lucidez, ( quando se diz que alguém está “ perdendo a razão”).
A razão também pode ser vista como consciência moral e intelectual; neste sentido, ela corresponde a uma vontade racional livre que não sucumbe aos desejos passionais. Além disso, ela pode significar clareza das ideias, enquanto resultado de um esforço intelectual.
Na Filosofia, a razão é apresentada como a qualidade primordial das coisas e apresenta duas faces:
a razão objetiva: que pressupõe que a realidade seja racional; assim, o objeto do conhecimento é racional
a razão subjetiva: que entende que a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos, destarte, o sujeito do conhecimento e da ação é racional.
Para alguns filósofos, a Filosofia é o encontro das duas razões.
A palavra razão origina-se das expressões ratio (do latim: contar, reunir, medir, calcular) e logos ( do grego: calcular reunir, calcular), ambas, portanto, respeito a pensar de forma ordenada.
Podemos dizer então, que do ponto de vista etimológico, a palavra razão pode ser descrita como “ a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, pensar e dizer as coisas como elas são; organizar a realidade de modo a torná-la compreensível”. Com efeito, a razão pressupõe a confiança de que as coisas são organizáveis.
Por sua própria natureza, a razão se opõe a outras formas de lidar com a realidade, tais como o conhecimento ilusório, através do qual só se pode conhecer a aparência das coisas e as emoções, paixões e sentimentos, que se apresentam de forma caótica, desordenada e contraditória. Também se opõem ao pensamento racional a crença religiosa e o êxtase místico.
O conhecimento racional também possui determinadas regras quais sejam:
  • Princípio da identidade: uma coisa não pode ser conhecida sem que seja preservada a sua identidade,
  • Princípio da não contradição: Parte da tese de que “ A” não pode ser “não-A”.
  • Princípio do terceiro excluído: Uma propriedade assumida por uma coisa qualquer exclui outras propriedades; por exemplo, a água está em estado líquido ou não está.
  • Princípio da razão suficiente (também chamado princípio da causalidade): tudo o que acontece tem uma causa, uma razão.

A crise da razão

No pensamento contemporâneo, o conceito de razão sofreu alguns fortes abalos. No campo das Ciências da Natureza, alguns físicos descobriram que a luz pode ser explicada tanto por partículas descontínuas quanto por ondas luminosas, o que atingiu em cheio o princípio do terceiro excluído. Também foram postos em dúvida os princípios da razão suficiente e da identidade, visto que foi constatada a impossibilidade de se saber porque determinados elementos se comportam de determinada maneira e também porque chegou-se à conclusão de que o que é válido em uma escala macroscópica pode não ser válido em escala microscópica.
Além disso, a teoria da relatividade mostrou que as leis da natureza dependem da posição ocupada pelo observador, assim, o que é contraditório para nós, poderia não ser para seres de outras galáxias ( na hipótese de que estes existissem / existam).
A Antropologia também trouxe novas reflexões a partir do questionamento da racionalidade ocidental, mostrando que outras culturas podem assumir uma concepção de mundo completamente diferente da nossa, mas nem por isso, inferior.
Marx e Freud foram dois pensadores cujas teorias estabeleceram um novo paradigma nas idéias a respeito da racionalidade. O primeiro, ao introduzir o conceito de ideologia, que demonstrou que em geral, a principal função das teorias, sistemas filosóficos e científicos é esconder a realidade social, de modo a garantir a exploração do homem sobre o homem.
Freud demonstrou que a nossa consciência é dirigida por forças que escapam ao nosso controle e que jamais se tornarão plenamente conhecidas e racionais. Suas teorias também mostraram que existem instâncias psíquicas inacessíveis que têm grande peso no nosso comportamento cotidiano e as quais não temos acesso.
Max Weber, ao discorrer sobre a ação racional, concluiu que ainda que motivadas por valores ou sentimentos, as ações são dotadas de racionalidade.
Neste quadro, um dos grandes desafios da Filosofia na contemporaneidade é encontrar um conceito de razão que dê conta das novas descobertas e abordagens teóricas.
 
Referências Bibliográficas:
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia – Ed. Ática – São Paulo, 2000.

11 comentários:

  1. Obrigada. Ajudou-me muito. Ótimo artigo para entender o significado de CRISE DA RAZÃO.

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  2. Este texto me ajudou bastante também. Numa linguagem menos rebuscada e tudo bem explicadinho.

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  3. Ótimo texto, muito bem organizado. muito bom.

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  4. ótimo texto, linguagem compreensivel para menos instruidos como eu. Obrigado

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  5. ótimo texto, linguagem compreensivel para menos instruidos como eu. Obrigado

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  6. A crise da razão não se contrapõe sobre realidades distintas..?

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